segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dr. Alexandrino Fernandes dos Santos

- Professor no Seminário Conciliar e Director da revista "Acção Católica"

Alguém escreveu que a simplicidade é a igno­rância do próprio méri­to. Todavia, as almas grandes, conforme ensi­na Santa Teresa, reconhe­cendo em si, méritos, fazem deles entrega a Deus.
É assim que eu vejo o Dr. Alexandrino Fernan­des dos Santos: tudo re­ferindo a Deus, já que reconhecia que "tudo" quanto tinha do Senhor o havia recebido.
«A humildade é o al­tar sobre o qual Deus quer que Lhe ofereçamos sacrifícios»... e o Doutor Alexandrino "celebrou" neste altar.
Tenho a firme convic­ção que todos os antigos alunos do prestigiado mestre, que nasceu em Santagões, antiga fregue­sia e hoje lugar da fre­guesia de Bagunte, con­celho de Vila do Conde, em 3 de Abril de 1908, dele têm esta viva ima­gem: a simplicidade e humildade em pessoa.
Terminado o Curso Filosófico e após o primeiro ano de Teologia, concluído com distinção, foi escolhido para com­pletar na Universidade Gregoriano, em Roma, o Curso teológico, matri­culando-se em 1928.
Em 26 de Março de 1932 recebeu em Roma a ordenação sacerdotal e, concluído o doutora­mento em Teologia, ini­ciou o magistério no Se­minário Conciliar de Braga, em Outubro de 1932, sendo um grande obreiro da formação in­telectual dos seminaris­tas pelo espaço de qua­renta anos.
Foi um distinto professor, admirado e estima­do por todos os alunos embora só o vissem nas aulas e na capela onde, di­ariamente, celebrava a Santa Missa... De resto, passava o dia-a-dia no seu quarto a estudar, a ler, a escrever.
Era uma pessoa doente e o seu mal estava nos pul­mões; por esta razão pas­sou meses nos Sanatórios da Guarda e do Caramulo e ainda em Casas de Saúde de Braga e do Porto.
A doença complexava­-o, de tal modo que se dizia incapaz de leccionar e foi necessário, muitas vezes, que o Reitor do Seminário e os colegas o "forças­sem"...
Sendo competentíssi­mo, escrevia todas as lições... falava muito depres­sa e verificava-se o seu cansaço aros cada -aula. Dizia ele que ficava completamente arrasado.
Muitas vezes quis de­sistir do magistério, dizen­do que se sentia incapaz de comunicar fosse com quem fosse, afirmando que as suas lições faziam dormir os alunos: o que não era verdade. Tinha receio de falar em público e, quantas vezes, por esta razão, o Arcebispo D. António Ben­to Martins Júnior o quis encarregar de missões es­peciais, mas nada conse­guiu.
Pela sua capacidade te­ológica, cultura humanís­tica e o gosto pelas letras, foi nomeado Director da re­vista "Acção Católica" - cargo que abandonou de­corridos seis meses, ape­lando para o seu estado de saúde.
Sempre desempenhou o cargo de examinador do Clero e de Juiz do Tribunal Eclesiástico, sendo exí­mio nas sentenças profe­ridas e na redacção das mesmas, quando em latim.
Não posso esquecer o trabalho que o Doutor Alexandrino realizou como Juiz na condução do Processo de beatifica­ção de Alexandrina Ma­ria da Costa - terça-fei­ra, dia 30 de Março, co­memorou-se o centená­rio do nascimento da Ve­nerável de Balasar, Pó­voa de Varzim.
O seu nome está pro­fundamente unido ao da Serva de Deus... Jamais se esquivou a qualquer trabalho, mesmo árduo, dizendo sempre que a Alexandrina tudo lhe merecia,
Quanto mais se poderia escrever sobre este mestre!
Na tarde de 2 de Ja­neiro de 1974, faleceu no Hospital do Carmo, no Porto, e foi sepultado em Bagunte, terra de sua naturalidade.
Recordo que presi­diu ao funeral e nos deu a "imagem perfeita do Doutor Alexandrino" o Senhor Arcebispo D, Francisco Maria da Silva - seu condiscípulo, em Roma, desde a primeira hora... Citou um pensa­mento do célebre Bour­deloue, cuja ideia central retive: muitos se têm perdido pelo fulgor dos seus talentos, dos seus triunfos... jamais se per­deu alguém pelos sen­timentos de uma ver­dadeira e sólida humil­dade.
O Doutor Alexandri­no está na glória!

Cónego Eduardo de Melo Peixoto, Diário do Minho, 4/4/2004

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